segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Ter um Everest para chamar de seu

Sem contar as viagens de avião, o lugar mais acima do nível do mar em que já estive talvez tenha sido quando brinquei no Hadikalis (65 metros), no Parque Hopi Hari, em São Paulo, ou quando visitei o topo do Ed. Manoel Pinto da Silva, no centro de Belém. A nenhum desses lugares tive de subir com meu esforço físico. Agora, quando vejo artistas paraenses escalando seus Everest’s, também sem uma corda sequer, mas com uma força interior tão grande e tão verdadeira, transporto-me imediatamente para o livro "No ar rarefeito", de Jon Krakauer. Nele, aprendi que escalar montanhas é uma aventura e tanto, mas é também uma prática quase religiosa, no sentido de religar o espírito à energia vital do homem, ao senso de responsabilidade, a um sentido existencial muito forte. O que é viver plenamente senão gostar de produzir um bom trabalho e ser feliz com o que se produz? O livro de Krakauer é, sobretudo, a história de pessoas abnegadas, apaixonadas pelo alpinismo, pela força bruta da natureza envolvendo-as no frágil limite entre a vida e a morte. Neste caso, a linha tênue se rompeu várias vezes, e muitos – dessa turma – que tentaram escalar o Everest (e até escalaram) morreram antes de descer para o ar denso do mundo cá embaixo. Os artistas paraenses sobem, a cada dia, a cada suor, a cada nota, a cada lágrima, a cada aplauso. Eles sobem. Eu subo com eles, uma vez que me encho de orgulho e de determinação para continuar caminhando rumo ao cume da minha montanha. O talento de Krakauer é o de levar o leitor como quem nos toma pelo braço e nos põe na rota certa, no ângulo privilegiado da melhor paisagem. O Everest só não está por inteiro no livro porque é impossível assimilá-lo por completo, assim nos sugere o autor. Chegar ao topo é sim uma alegria muito grande, mas a caminhada até lá, além de ser motivo de um imenso orgulho, é a força motriz que conduz e determina essa chegada ao cume do Everest. Alguns artistas chegam, outros não; e, independente disso, todos são merecedores de reconhecimento e de respeito porque pretendem não desistir dessa escalada de 8848 metros de altura, que é o nosso Everest de cada dia. (revisão Andreza Raiol)

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