sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Chuva das quatro

Agora em Belém são quatro horas da tarde.

A chuva cai e risca a paisagem, como a tinta a óleo a tela. Sombrinhas colorem o chão, árvores choram gotas alegres, agradecem a água de todo dia. Nesta cidade, a chuva representa, significa, diz muito da riqueza, da beleza.

Contemplo a paisagem pintada a gotas, todas as tardes. Os riscos surgem e junto com eles o barulho da tranquilidade pinta a paz. E no embalo da orquestra artesanal dos pingos, as redes vão e vêm, as bênçãos penetram os poros invadindo a alma e limpam as preocupações diárias.

É na chuva que as desigualdades ficam mais aparentes. Ricos secos e pobres molhados. Ou será o contrário? De um lado, São Pedro, "deus da chuva", abençoa plantações, hortas, jardins, corações e mentes desanimadas. De outro, enchentes que brigam e desabrigam famílias inteiras, trovões, tempestades e raios.

Já nos primeiros instantes, chuviscos energizam os sentidos para a nostálgica infância, quando acontecem partidas de futebol e de queimadas regadas à chuva, suor e sol. Ou seria sol, suor e chuva?

Quatro horas da tarde. Horário para olhar, sentir, dizer, escrever, fotografar, amar, comover-se, dançar, brincar, viver, comer, rezar, abençoar-se, tranquilizar-se, banhar-se.

A chuva chega às quatro horas em Belém.

(Revisão: Andreza Raiol)

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